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O caso Vinícius Jr: reflexões e aprendizados sob a ótica de Compliance

No dia 21 de Maio de 2023, durante o jogo Valencia X Real Madrid, o jogador brasileiro Vinicius Júnior sofreu um ataque racista por torcedores do time mandante nos últimos minutos do 1º tempo. O fato em si é muito triste, mas alguns aspectos tornam a situação ainda mais estarrecedora. Não foi a primeira vez em que o jogador sofreu tal ofensa. O jogo prosseguiu. Os ofensores seguiram impunes e o jogador foi expulso minutos depois, injustamente, após uma confusão de jogo certamente influenciada pela injustiça instaurada. O clube não foi punido e a Liga Espanhola de futebol, nos dias a seguir, não emitiu demonstrações claras de repúdio e punições aos culpados ativos e passivos.

As repercussões se estendem pelo menos até a data de publicação desse post. Em meio a discussões, aspectos como a revisão dos regulamentos, questionamentos das aplicações das multas e punições previstas nas normas e incertezas quanto aos posicionamentos dos patrocinadores dos clubes e da Liga Espanhola. A discussão chegou até aos aspectos de governo e diplomacia.

O fato é que o tema do racismo, mais uma vez, voltou à pauta em âmbito internacional. Mas por que em pleno século XXI, tais casos ainda são frequentes? O combate ao racismo é uma pauta relativamente recente, uma vez que na metade século passado ainda existiam em países como Estados Unidos e África do Sul, leis e políticas de segregação étnica. Aqui no Brasil, nos anos 90, piadas e esquetes de humor degradantes com mulheres, comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência eram comuns e tratadas com normalidade. Longe de justificar, mas na Europa a torcida em torno de competição costuma extrapolar limites. Na Espanha mesmo, em 2017, alguns “torcedores” fizeram blackface para afrontar Lewis Hamilton, então rival do piloto espanhol Fernando Alonso. Casos racistas ocorrem no esporte em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Estamos falando de mudanças culturais que naturalmente levam um tempo para se consolidar. Pesam os aspectos geracionais. A mudança de comportamento se torna mais complexa em pessoas mais sêniores, pois cresceram com hábitos e aspectos que por toda a sua vida tidos como normais. Em contrapartida, as gerações mais novas não somente tem a cultura antirracista como pauta desde sempre. O próprio Vinicius Junior (nascido no ano 2000) mesmo sendo aconselhado a receber com mais frieza tais afrontas, não só se se recusa a aceitar, mas resiste tenazmente e confronta o status quo, se tornando um símbolo e inspirador para pessoas em todo o mundo.

A narrativa permite uma série de reflexões relativas a Compliance, que significa em linhas gerais conformidade a normativos internos e externos. As organizações públicas e privadas precisam cumprir efetivamente tais exigências regulatórias, sob o risco de estar expostas à multas e danos a um dos seus maiores ativos: sua reputação. Indiferente ao tamanho da organização, possuem relação com os stakeholders, ou seja, as partes interessadas. Alguns exemplos do desgaste à marca: afetam as vendas e os resultados gerados aos sócios e acionistas, influenciam negativamente a escolha pelos consumidores, impactam a relação com fornecedores e sociedade e geram questionamentos pelo governo e empresas do terceiro setor. Como ação preventiva, se faz necessária uma ação continuada de conscientização corporativa, baseada em princípios Éticos descritos com clareza em seus códigos e normativos internos. As ações de comunicação e comunicação precisam ser lúdicas e dinâmicas para promover o real engajamento. Também devem ser enfatizadas a importância da conduta no dia-a-dia, não se limitando às interações com clientes, colegas de trabalho e fornecedores, mas também as interações pessoais no cotidiano e nas redes sociais. Episódios de ordem ética no cotidiano repercutem rapidamente nas redes sociais e a sociedade exige respostas rápidas das empresas empregadoras de pessoas vistas como ofensoras. As organizações que não agiram rápido se depararam com ônus e arriscadas a embarcar no “cancelamento” ainda que sem culpa. Por isso algumas das práticas adotadas são o estabelecimento de uma política de consequências aos funcionários em caso de descumprimento aos padrões estabelecidos e um protocolo de monitoramento e resposta de mídia tempestivamente às apurações do episódio.       

Um destaque positivo no episódio foi a postura do técnico Carlo Ancelotti, que prestou apoio incondicional ao seu liderado, chegando a desafiar as posições da Liga Espanhola. Para ele é natural que venha a trabalhar com um elenco de talentos globais e precisa ser o exemplo. Um bom líder é o que sabe promover conexões na diversidade em geral, usando como força para maximizar as opções de superação dos resultados.

Tragédias geram aprendizados e promovem mudanças. Como resposta aos fatos, uma corrente de solidariedade se formou em torno de Vini Jr e se pautou a adoção de uma postura antirracista. Mais discussões e respostas se seguem, dentro e fora da Liga Espanhola. Ficamos na torcida que a humanidade saia mais unida, justa e forte. Que menos episódios como esse voltem a surgir e ainda que ocorram, que os ofensores sejam responsabilizados. As organizações podem, com toda a certeza, contribuir com essa corrente positiva.

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Leandro Burla

Especialista em Compliance, Qualidade, Projetos e diversas soluções para a superação dos resultados.

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